Rasgar-me em ti!

Rasgo mais uma página
No calendário do sonhar
Vejo e revejo-me no poder
De te ter, viver e amar!


Escondo-me nesta minha timidez
Que me leva a ser infeliz
Escondo a alma, os sentimentos
Mas não nego o que o coração me diz!




Sei que nunca serei opção
Porque pensas com a cabeça
E negas o teu coração!

Lágrima de Preta


Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

de António Gedeão

Soneto XLIV


Sabrás que no te amo y que te amo
puesto que de dos modos es la vida,
la palabra es un ala del silencio,
el fuego tiene una mitad de frío.

Yo te amo para comenzar a amarte,
para recomenzar el infinito
y para no dejar de amarte nunca:
por eso no te amo todavía.

Te amo y no te amo como si tuviera
en mis manos las llaves de la dicha
y un incierto destino desdichado.

Mi amor tiene dos vidas para amarte.
Por eso te amo cuando no te amo
y por eso te amo cuando te amo.

de Pablo Neruda

Se As Minhas Mãos Pudessem Desfolhar


Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.

Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.

Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranquila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!
de Garcia Lorca

Que Venha A Morte

Que venha a morte,
A morte como um desatino.
Ela que se entregue
Como senha de um destino!

Que venha a morte,
Como destino de uma guerra.
Que se marque fronteiras
E que se desenhe mais uma terra!

Que venha a morte,
Anunciada por mais um clamor.
Que se grite e que se odeie
Daqueles que só têm dor!

Que venha a morte
Como desespero de uma…
Sorte!

No Sonho


No triste penar dos dias
Entrego-me à loucura de sonhar.
Vejo a luminosidade da minha alma,
À espera de um dia se entregar!

Recolho pedaços de alento
Na espera fugaz da entrega.
Traço cada rota do meu caminho
Longe de acabar a minha espera!

Em dias nostálgicos
Com pedaços de sonho
Entrego-me a ti…
E em pedaços de realidade
Nada se transforma para mim!

Perco-me


Procuro os teus lábios ardentes
E perco-me na noite escura
Vejo-te em cada sonho
A percorrer a minha loucura

Perco-me na tua boca
Fervilho por esse beijo
Sinto-me completo em ti
E a alma bela desse desejo

Perco-me nas curvas do teu corpo
Sinto o toque de se ser feliz
A palavra amantes faz sentido
Quando respeitamos o coração…
No qu’ele diz!

Ainda Não Sei...


Não sei que vontade é esta de escrever,
Não sei que vontade é esta de te ler,
Não sei que vontade tenho em mim...
Se a minha vontade é de te ter!

Rasgo mais um pensamento,
Tiro mais uma ideia!
Vivo da vontade de ser...
E de me perder nesta aldeia!

Que cantiga doce...
Doce voz do rouxinol
E nestas palavras serei um guia
Serei o vosso farol!